domingo, 7 de setembro de 2014

O perigo das convicções

Convicções são como ideias fossilizadas, pois imutáveis - dadas como perfeitamente acabadas -, mas que se deterioram com o tempo. As opiniões vivas, ao contrário, estão sujeitas a mudarem de rumo, em razão da iluminação de pontos obscuros.




317 - Opiniões e peixes

"A gente é possuidor de suas próprias opiniões como se é possuidor de peixes - no sentido de que se possui um viveiro de peixes. É necessário ir à pesca e ter sorte - então, se tem seus peixes, suas opiniões. Falo aqui de opiniões vivas, de peixes vivos. Outros ficam satisfeitos quando possuem uma coleção de fósseis - e, em seu cérebro, 'convicções' ".

Friedrich Wilhelm Nietzsche,  Editora Escala, 2007, pág. 145

Pais e educadores: inimigos naturais de um pensador


Os pais e educadores se tornam os inimigos naturais do pensador à medida em que são portadores de hábitos e costumes, os quais retransmitem em sua tarefa de educar. O aprendiz de pensador que não consegue pensar por si só, que não se distância dos hábitos e dos costumes, nunca será de fato um pensador, já que sempre estará pensando com as ideias dos outros. Em algum ponto de sua obra, nessa mesma perspectiva, Nietzsche aconselha a se distanciar dos livros, para que o pensador passe a pensar por si mesmo e deixe por tempos de usar sua mente para apenas reproduzir aquilo que seus autores pensaram. Liberte-se dos livros é uma sentença que contraria o senso comum - diz muito sobre o filosofar com um martelo, característica de Nietzsche. Claro que o filósofo faz referências às pessoas ditas eruditas que se tornam enciclopédias ambulantes, que não perdem a oportunidade de discorrer sobre seus conhecimentos, mas que não acrescentam ideias inovadoras: e isso ele combate.


267 - Não há educadores*

"Como pensador, não se deveria falar senão de educação de si. A educação da juventude dirigida pelos outros é, seja uma experiência realizada em qualquer coisa de desconhecido e de incognoscível, seja um nivelamento por princípio para tornar novo o ser, qualquer que seja, conforme aos hábitos e aos costumes reinantes: é, nos dois casos, alguma coisa que é indigna do pensador, é a obra dos pais e dos pedagogos que um um homem leal e audacioso chamou de nossos inimigos naturais - somos educados há muito tempo segundo as opiniões do mundo, acabamos um dia por nos descobrirmos a nós mesmos; então começa a tarefa  do pensador e é tempo de pedir sua ajuda - não a título de educador, mas como aquele que se educou a si mesmo e tem experiência".

*Obra: O viajante e sua sombra, Friedrich Wilhelm Nietzsche, Editora Escala, 2007, páginas 124-125.

domingo, 31 de agosto de 2014

A música e a lua


A música é como a lua. 
Não tem a claridade do sol, 
mas ilumina nossas noites vazias.



169 - Como amigos da música, pág, 87.

O viajante e sua sombra (1879)

"Um viajante - poeta, filósofo, observador - segue as trilhas do mundo interior e exterior, monitorado por uma sombra - poetisa, filósofa, observadora - sombra que é dele, sem o ser, que personifica a luz, sem o ser, que se desfaz nas penumbras para descansar e refletir. Ora o viajante a segue, ora é ela que o acompanha. Sempre que haja luz. E sol para os aquecer. E vento e neve para os unir. E uma árvore para os abrigar. Chuva, não. Porque a chuva dissolve, encharca as ideias, afoga os pensamentos, dissipa o diálogo, leva a filosofia na correnteza das enxurradas. Esse é Nietzsche que, poeta e filósofo, abraçado com sua sombra inspiradora, empreende uma viagem pelo mundo interior do homem, captando suas angústias e suas alegrias, suas verdades e seus paradoxos, suas inclinações e seus contrassensos, projetando-os como riquezas e pobrezas individuais subsistentes no mundo exterior, no corpo social, na sociedade como expressão política e religiosa, como soma de todas as conquistas e derrotas, de todos os acertos e erros do homem. A sombra ora está, ora prefere se esconder. Não compartilha de todas as ações do homem. Especialmente das infidelidades, das tramas e trapaças perpetradas na calada da noite. No escuro. A sombra não compactua com a escuridão". Ciro Mioranza (Apresentação da Obra).

Friedrich Wilhelm Nietzche, 15 de outubro de 1884 - 25 de agosto de 1900.

Editora Escala, 2007, São Paulo - SP.