A música é como a lua.
Não tem a claridade do sol,
mas ilumina nossas noites vazias.
169 - Como amigos da música, pág, 87.
O viajante e sua sombra (1879)
"Um viajante - poeta, filósofo, observador - segue as trilhas do mundo interior e exterior, monitorado por uma sombra - poetisa, filósofa, observadora - sombra que é dele, sem o ser, que personifica a luz, sem o ser, que se desfaz nas penumbras para descansar e refletir. Ora o viajante a segue, ora é ela que o acompanha. Sempre que haja luz. E sol para os aquecer. E vento e neve para os unir. E uma árvore para os abrigar. Chuva, não. Porque a chuva dissolve, encharca as ideias, afoga os pensamentos, dissipa o diálogo, leva a filosofia na correnteza das enxurradas. Esse é Nietzsche que, poeta e filósofo, abraçado com sua sombra inspiradora, empreende uma viagem pelo mundo interior do homem, captando suas angústias e suas alegrias, suas verdades e seus paradoxos, suas inclinações e seus contrassensos, projetando-os como riquezas e pobrezas individuais subsistentes no mundo exterior, no corpo social, na sociedade como expressão política e religiosa, como soma de todas as conquistas e derrotas, de todos os acertos e erros do homem. A sombra ora está, ora prefere se esconder. Não compartilha de todas as ações do homem. Especialmente das infidelidades, das tramas e trapaças perpetradas na calada da noite. No escuro. A sombra não compactua com a escuridão". Ciro Mioranza (Apresentação da Obra).
Friedrich Wilhelm Nietzche, 15 de outubro de 1884 - 25 de agosto de 1900.
Editora Escala, 2007, São Paulo - SP.